Mondragón Cooperative Corporation
Uma análise crítica das forças e fraquezas e potencialidades do modelo
Judith Hitchman, novembre 2008
Muitas pessoas conhecem Mondragón, muitas vezes elogiado como o protótipo da cooperativa industrial de sucesso, em um mundo em que o modelo cooperativo é de forma geral identificado com os setores agrícolas ou dos serviços.
Histórico
Em 1941, Don José Arizmendiarrieta chegou à pequena cidade de Mondragón, situado no centro do País Basco Espanhol. Em 1943, ele fundou a Escola Politécnica, e cerca de dez anos mais tarde, em 1956, a primeira cooperativa, ULGOT, onde se fabrica a marca de eletrodoméstico FAGOR. O primeiríssimo agrupamento de cooperativas (ULARCO-FAGOR) nasceu em 1964, seguido dois anos depois por um dos elementos mais inovadores, ALECOP, uma fábrica onde empregos em tempo parcial são reservados para estudantes, de forma a lhes permitir ganhar algo para continuar seus estudos. É preciso ter em mente que a Espanha de forma geral, e mais ainda esta região, é muito pobre naquela época, e que as pessoas estão apenas se livrando dos efeitos da guerra civil. Em 1974, nasceu um centro de pesquisa, e progressivamente o vasto império que a Mondragón Cooperative Corporation é hoje. A forma atual da estrutura MCC foi adotada pelo Congresso de 1991.
O que é Mondragón hoje, e como ela opera?
Mondragón constitui um verdadeiro império, composto por cerca de 103.000 pessoas, 120 cooperativas, cobrindo campos muito diversos de produtos, industriais, financeiros, bens de consumo, agricultura, educação, pesquisa e serviços sociais. As 69 fábricas de produção se encontram em numerosos países do mundo. Não são todas elas cooperativas, como o veremos mais adiante. No seio da cadeia de supermercados, EROSKI, os consumidores são também membros. Um comitê de higiene e de segurança existe em todas as cooperativas.
Conforme a declaração de princípio (mission statement):
Mondragón Cooperative Corporation (MCC) é uma entidade empresarial socioeconômica, fincando suas raízes profundas no País Basco, criada por e para as pessoas, inspirada pelos princípios fundamentais da experiência cooperativa, engajada em relação à comunidade para a melhoria da competitividade e a satisfação dos clientes. Seu objetivo é “criar riqueza no seio da sociedade pelo desenvolvimento empresarial e a criação de empregos em que as pessoas são membros das cooperativas”.
MCC se baseia sobre o engajamento solidário e utiliza métodos democráticos dentro de sua organização e de sua gestão. MCC encoraja a participação e a “integração das pessoas na gestão, nos lucros e no acionariado de suas empresas para desenvolver um projeto conjunto integrado que visa uma empresa social e o desenvolvimento pessoal”.
E 10 princípios fundadores subjacentes de cooperação:
1. Entrada aberta
2. Organização democrática
3. Soberania do trabalho
4. Natureza subordinada e instrumental do capital
5. Gestão participativa
6. Solidariedade salarial
7. Inter-cooperação
8. Transformação social
9. Universalidade
10. Educação
O custo de entrada no sistema cooperativo é de 14.000 €, uma quantia que é deduzida progressivamente dos salários sobre um longo período. Ser membro de uma das cooperativas do grupo abre o direito a uma participação correspondente a 20% dos lucros do conjunto, à adesão automática ao sistema complementar de saúde e de aposentadoria da empresa, a empréstimos com juros preferenciais. Representa também uma segurança de emprego relativamente grande. O nível de formação no decorrer da vida é elevado, conforme os 10% exigidos na Espanha. Um acesso à Universidade técnica, aos centros de formação para a gestão e para a lingüística são igualmente garantidos.
O primeiro elemento que me parece positivo é que, apesar do fato de ter-se tornado uma corporação multinacional, nenhuma deslocalização de cooperativas fora da Espanha ou do País Basco aconteceu, quer seja na indústria, nos supermercados, nos centros de pesquisa, nos bancos e nos serviços, onde 90% dos empregados são membros das cooperativas. Os outros empregados (muitas vezes menos de 5%) beneficiam de certa “flexisegurança”. Em 2007, 10 cooperativas tiveram perdas. Em 2008 será pelo menos o dobro. Várias empresas do grupo tendo atualmente o estatuto clássico de acionariado estão prestes a tornar-se agora cooperativas.
Quais são as forças e as fraquezas do modelo?
Eu tentei examinar o grau de implementação dessas práticas à luz da economia solidária que visa à criação de uma riqueza e de um bem-estar coletivo, para ver como uma empresa multinacional pode ser de fato colocada a serviço dos interesses locais e das pessoas.
Frente à questão delicada sobre a origem dos produtos, sobretudo nos supermercados EROSKI, e sabendo que a agricultura intensiva no Sul da Espanha pode ser um equivalente moderno da escravatura, eu soube que a cadeia recebera a certificação SA8000 há dois anos. O que quer dizer que os direitos humanos são respeitados, assim como o trabalho decente (inclusive nos fornecedores). Nenhum trabalho é realizado por crianças. A certificação não cobre todos os produtos, porém o processo está realmente em curso. A cooperativa FAGOR utiliza os mesmos processos de SA8000, mesmo se eles não ainda certificados.
Ter uma atitude de cooperação é também partilhar os riscos e aceitar as reduções de salário em tempo de recessão. Com a recessão mundial, haverá certamente empregos a menos, quer isto aconteça na Espanha ou em outra parte.
Entretanto, numerosas fábricas que se encontram pelo mundo afora não são cooperativas. As diferenças culturais na aceitação do estilo universal de gestão participação e os princípios de cooperação parecem ser as causas principais disto. Mas existe um elemento positivo: os fluxos tensos de entrega de peças entregues em domicílio fazem que a marca carbono da empresa seja das melhores. Muitas destas empresas apenas passaram da fase inicial, e não conseguem ainda ter lucros. Existe uma transparência da informação, uma tentativa de construir um mesmo estilo de gestão, e 30% das partes pertencem aos assalariados. Fica difícil instalar uma redistribuição dos benefícios porque não existe cultura da poupança em numerosos países, o que torna a participação simples aos benefícios mais complicada. A implementação de programas de saúde e de aposentadoria tem um impacto mais importante. Vale também mencionar o fato que os salários ultrapassam em 10% o salário mínimo em cada país. No entanto, isto levanta a questão dos limites culturais do modelo, mesmo se a filosofia permanece íntegra.
Tudo isto demonstra uma RSE (Responsabilidade Social da Empresa) muito
importante. Existe uma vontade declarada de respeitar os Direitos do Ser Humano, assim como a legislação, a dignidade, o respeito e a transparência. O modelo da boa governança está baseado nos princípios da inter-cooperação e do controle dos trabalhadores.
Uma questão fica sem resposta : a da não-existência de sindicatos
Apesar do princípio da cooperação, « um homem, uma voz », que confere uma representação democrática clara, o papel de um sindicato ultrapassa o da simples representação. Especialmente quando os tempos ficam difíceis. Os sindicatos permitem também aos trabalhadores permanecer em relação com o mundo exterior a sua empresa e setor.
No final das contas, em uma empresa de dimensão internacional, cuja venda dos produtos depende do consumismo, e do “sempre mais” a questão fica colocada sobre os verdadeiros limites que este sistema porta, de forma intrínseca. Será que o modelo atual poderá continuar e transformar a sociedade para que haja uma abordagem mais racional da utilização de todas as coisas? Ou então, será que o laço estreito da produção dos bens com o modelo de uma sociedade capitalista e neoliberal vai provocar a queda do que é sem dúvidas uma tentativa única de partilhar os benefícios da atividade com a base? Como o expressou Mikel Lezamiz: “Não somos anjos…”?
Fonti :
Para informações: www.mcc.es
Este artigo está disponível no blog: Boletim Internacional de Desenvolvimento Local Sustentável